sexta-feira, 7 de agosto de 2015

rapere in jus

Devagar.
Não falta tempo.
Inocentemente paciente.
Soletro palavras, que poderia dizer com fluidez, para aumentar a demora. Conto até três passando pelos quatro quartos e  por vezes vou aos oitavos. E começo de novo à mínima suspeita de engano.  O ponteiro move-se lentamente, o mundo abrandou só para mim, na espera de um sinal. Demoro a fazer cada gesto e a completar cada passo, pois tal como o rumo, a pressa deixou de fazer sentido neste novo contar. Eis que surge um espelho que me mostra que algo não está certo... Tons grisalhos, pele enrugada, olhos fundos...o tempo não abrandou! Maldito vazio à minha volta! Só olhei para o meu relógio! Deixei-me ficar aqui, tal era a convicção de que nada poderia falhar... Não posso recuperar o tempo nem apagar as marcas... Ainda assim, isento da pressão do atraso, aprendi que cada segundo é um segundo. O mundo não abranda cada vez que um mero utente sai do trilho, mas a pressa tolda a percepção. Tentarei de agora em diante viver o que Tu me deres. Vou ali comprar uma pilha e já volto ao caminho antes que se faça tarde.


Até breve.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

A nu. Sem nada a esconder. Simplesmente limpa. Livre de tudo o que dificulte o movimento. Desprovida de tudo o que possa omitir factos ou deturpar a realidade. Assumindo todos os erros, expondo todas as falhas. O que for fraco parte. Por outro lado, o que for robusto tem a oportunidade de mostrar o que vale e, certamente, sobreviverá. Não se limpa lama com mais lama. Quando muito, a lama esconde temporariamente alguma mazela. Se estiver uniformemente espalhada, talvez até iluda. Mas é uma questão de tempo até secar, estalar e deixar à vista uma corrosão ainda maior. Quanto mais tempo a lama se mantiver fresca maior será o estrago que faz, podendo mesmo conduzir à ruína total. Assim é também com a alma. E a água para lavar a alma é a verdade. Tal como a água fria no corpo, a verdade é desconfortável na alma. Descobre o ser e revela as imperfeições. Mas evitá-la é espalhar lama. É precisa esta nudez da alma, ainda que incómoda. É preciso limpar para ver o que está por baixo. Só assim se consegue inverter o desgaste. Caberá no tempo? A verdade trará consigo a resposta.

domingo, 5 de abril de 2015

Consumo absurdamente, grandes quantidades de tempo a pensar. Útil? Talvez. Mas penoso. Percorro cada dia com os dedos por cima do manto que o cobre sem deixar escapar qualquer segundo. Nalguns momentos tenho uma sensação de conforto como se de uma almofada de espuma se tratasse, noutros sinto um formigueiro cómico que quase me faz perder o ar carrancudo que a vida me deu. E normalmente, naqueles que gasto a pensar, sinto nas pontas dos dedos coisas como agulhas afiadas a entranharem-se na carne, brasas no ponto mais alto da sua incandescência, e gelo que me rouba pedaços de pele... e no fim desta tortura horrível, constato sempre o mesmo: O Passar dos dias é um constante sofrimento, cabe-nos desenvolver uma astúcia aprimorada que nos permite saber evitar os piores segundos, e na impossibilidade de nos esquivarmos a eles, nos permita mitigar as feridas rapidamente. É o conhecimento íntegro da dor que nos faz dar valor aos momentos almofadados.
Mantenha-mo-nos cheios de fé. Obrigado por cada lição que me Dás. Só espero continuar a ter discernimento para as entender todas.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

É curta a estadia.Vago o saber. Constatamos, com o passar dos dias, que todas as experiências vividas não nos conferem nunca capacidade suficiente para lidar com os desafios que encontramos. Por mais conturbado e sofrido que seja o caminho percorrido, há sempre mais para saber. É uma constante da vida este lidar com a dúvida. Há cruzamentos que nos prendem, que nos baralham a ponto de nenhum rumo ser correcto. Não há mais a fazer do que esperar que alguma luz surja e nos indique para onde virar. Até lá, resta procurar um lugar onde o desconforto seja o menor possível para que a dúvida não nos tolde a visão a ponto de a desfocar, pois quando tudo perde a cor, convém que o contraste se mantenha, ou até que melhore. Convém que o preto e o branco se distingam e que os tons de cinzento não predominem de forma tal que se esvaia o interesse de olhar em frente. É dura a espera. Mas é purgatória. Faz-nos separar o bem do mal com clareza sem influencia de padrões estonteantes.
Seja a dor o caminho se for para melhor.